– Artigo publicado originalmente em pelo Parti Socialiste de Lutte / Linkse Socialistische Partij, Bélgica, a 25 de Setembro de 2024 –
Há meses que o regime israelita faz tudo o que está ao seu alcance para provocar uma escalada regional. No verão passado, houve os assassinatos selectivos do líder do Hamas, Ismail Haniyeh, em Teerão, e do líder do Hezbollah, Hajj Mohsin, em Beirute. Houve atentados bombistas no Iémen. Agora, para além disso, uma operação em grande escala de terrorismo de Estado no Líbano. De que outra forma se podem descrever explosões mortais através de dispositivos de comunicação manipulados, como pagers e walkie-talkies, seguidas de atentados bombistas?
As explosões de 17 e 18 de setembro no Líbano e na Síria fizeram pelo menos 37 mortos e milhares de feridos. Estas explosões visavam claramente sectores mais vastos da população libanesa e não apenas os militantes do Hezbollah. As explosões foram seguidas de bombardeamentos que mataram centenas de pessoas.
Na sexta-feira, foram atacados blocos de apartamentos em Beirute, com os hospitais a receberem mais vítimas do que após o desastre da explosão do porto de Beirute em 2020. Pelo menos 558 pessoas morreram nos atentados de segunda-feira, incluindo 50 crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do Líbano. Dezenas de milhares de pessoas estão a tentar fugir do sul do Líbano. Entretanto, os feridos estão a dar entrada em hospitais que já estavam à beira do colapso antes do terrorismo de Estado israelita. Para além dos feridos com lesões físicas, milhares de pessoas estão aterrorizadas.
O ministro israelita da Guerra, Galant, falou de uma “nova fase” da guerra contra o “Eixo da Resistência”, centrada no Líbano. Netanyahu e companhia querem exportar a sua agressão militar em Gaza para o Líbano e a Cisjordânia. Entretanto, como é óbvio, o horror em Gaza continua. No passado fim de semana, pelo menos 22 pessoas foram mortas num ataque a uma escola no bairro de Zeitoun, na Cidade de Gaza.
O jornalista de investigação israelita Ronen Bergman tem razão quando diz que os israelitas desenvolveram “a máquina de matar mais robusta e racionalizada da história”. Esta máquina de matar está a ser utilizada para provocar uma guerra regional. O objetivo é criar ainda mais miséria e destruição. Em outubro de 2023, o presidente da N-VA (extrema-direita na Flandres, Bélgica), De Wever, declarou: “Não há outro caminho senão escolher Israel, a democracia e a luz. Quem estiver do outro lado fica do lado do terror e da escuridão”. Quanta luz e democracia é que ele vê por entre os escombros da destruição?
Para a população da região, a situação é desastrosa. O argumento da segurança para a população do norte de Israel é falso. A segurança não será alcançada bombardeando o Líbano e provocando uma guerra total com o Hezbollah. Trata-se de uma tentativa de restaurar um sentimento de “unidade nacional” depois dos crescentes protestos dentro da Linha Verde se terem virado cada vez mais contra o Governo de Netanyahu. É uma tentativa de evitar ter de prestar contas do sofrimento causado e do facto de o regime israelita não poder apresentar uma “vitória” a qualquer nível no triste primeiro aniversário dos terríveis ataques do Hamas e do subsequente genocídio em Gaza.
Um cessar-fogo parece agora ainda menos provável, apesar das declarações de Biden sobre o assunto. O imperialismo estadunidense encontra-se num paradoxo. Por um lado, quer a estabilização e um cessar-fogo antes das eleições americanas, e a raiva pelo genocídio em Gaza é um fator entre os eleitores. Por outro lado, o apoio fundamental de Washington ao governo de Netanyahu – tanto através de apoio militar direto como através da rivalidade com o “eixo iraniano” apoiado pelo imperialismo russo e chinês – torna impossível um acordo. A agressão no Líbano sabota qualquer hipótese de um cessar-fogo e só conduz a uma nova escalada. Esta é a espiral para a qual o governo israelita está a conduzir a região.
É necessária a resistência internacional da classe trabalhadora e de todos os oprimidos contra a escalada da violência e do genocídio. Isto é essencial como solidariedade com as massas nos territórios palestinianos e no Líbano. O movimento internacional é também importante para as vozes consistentes da oposição em Israel, por muito limitadas que sejam.
O governo sanguinário de Netanyahu tem de desaparecer, os carregamentos de armas e os laços que apoiam a ocupação colonial e os assassínios em massa têm de acabar. Todo o sistema capitalista e imperialista, a base sobre a qual cresce a atual barbárie, tem de ser posto de parte. Para isso, não podemos contar com os políticos do sistema no Ocidente ou com regimes ditatoriais e reacionários noutros lugares. A auto-organização dos jovens foi um dos pontos fortes das ocupações das universidades. Isto também é necessário numa escala maior: a luta internacional e a solidariedade da classe trabalhadora e dos oprimidos é o caminho a seguir para pôr fim à barbárie capitalista.