A resistência contra este genocídio tem de visar as suas raízes fundamentais. Isto significa travar uma luta política intransigente não só contra o colonialismo e o racismo do Estado israelita, mas também contra o sistema capitalista e imperialista que os sustenta. Esta luta deve ser acompanhada pela construção de organizações socialistas independentes capazes de organizar a classe trabalhadora e todos os oprimidos em torno desta agenda. Deve traçar um rumo que se afaste das capitulações de partidos pró-capitalistas corruptos como a Fatah, mas também de forças islamistas de direita como o Hamas e o Hezbollah. Embora, nas condições atuais, estas forças tenham um apoio significativo, os socialistas têm de abordar as causas profundas da opressão nacional sem sucumbir a métodos políticos reacionários que, em última análise, servem para consolidar as relações de poder existentes.
Nós apoiamo-nos nas tradições da direção do RCP e, num novo período de conflito e crise mundial, voltamos a utilizar os seus métodos de debate político democrático e de organização firme da luta militante para reconstruir o movimento operário.
Muitos factores económicos, políticos e sociais surgem e interagem entre si. Em qualquer momento, é fundamental avaliar e adaptar as perspectivas traçadas, pois são elas que orientam a ação revolucionária. Isto é ainda mais verdade no contexto de um acontecimento tão poderoso como uma guerra mundial. Pode ocorrer uma evolução fundamentalmente diferente da prevista, e agarrarmo-nos a perspectivas ultrapassadas é um erro pelo qual há sempre um preço elevado a pagar. Infelizmente, foi o que aconteceu com a Quarta Internacional.
As lutas de massas irromperão inevitavelmente na China no próximo período, mas também serão muito complicadas – cheias de todo o tipo de ilusões e confusões. Não tememos essas complicações, mas precisamos entendê-las e nos preparar.
Para levar a classe trabalhadora ao poder, um partido revolucionário tem a aprender com a Revolução portuguesa, entre outras coisas, a importância de defender as liberdades democráticas, avançar a luta socialista pelo controlo social da produção e organizar o poder proletário para a tomada de poder político.
Privada das ferramentas habituais (controlo do Estado e das forças armadas e sabotagem económica) para travar a revolução, a burguesia foi salva pela política dos dirigentes dos partidos de massas de trabalhadores: PS e PCP. Isso tornou-se evidente na crise revolucionária que se desenrolou durante o resto de 1975, em particular no chamado Verão Quente de 1975. Nesse período o poder foi mais contestado que nunca, com o Estado cada vez mais dividido e incapaz de agir com determinação. Os trabalhadores também estavam divididos quanto à tomada do poder político, sem uma direção que os levasse a concluir sobre essa necessidade.
A classe trabalhadora continuou a avançar na conquista do poder económico. Em Dezembro de 1974, no Alentejo e no Ribatejo, regiões onde dominava o grande latifúndio, os proprietários começaram a fechar os campos aos trabalhadores, para impedir a sementeira e trazer a fome, de forma a sabotar a revolução. Em resposta, o proletariado rural ocupou as terras para controlo dos empregos, dos salários e da produção agrícola, pondo em marcha a Reforma Agrária, ou seja, o início da concretização da reivindicação “A terra a quem a trabalha”, e aumentando a produção.
Logo no dia 26 de Abril de 1974, os moradores dos bairros de lata nas cinturas industriais de Lisboa, Setúbal e Porto começaram a organizar ocupações de casas vazias, um processo que se prolongou e se intensificou. A classe trabalhadora exigia o direito a habitação digna e tomou a iniciativa de resolver o problema pelas próprias mãos. Para organizar a luta pela habitação foram criadas comissões de moradores, os primeiros órgãos de poder proletário, que faziam assembleias regulares para discutir e decidir sobre a vida coletiva.
Apesar do MFA pedir aos civis para ficar em casa, no próprio dia 25 de Abril, ainda a rendição de Marcello não estava completa, as massas encheram as ruas de Lisboa em apoio aos militares revoltosos, trazendo consigo os famosos cravos e transformando o golpe no início duma revolução, um período em que são as massas que fazem a História.
Há 50 anos, a irrupção política dos trabalhadores e da juventude após o golpe militar de 25 de Abril pôs fim ao fascismo e ao colonialismo e originou uma revolução social. Como em 1974 e 1975, o socialismo é hoje uma necessidade objetiva face aos problemas concretos da barbárie capitalista e a Revolução portuguesa contém importantes lições para quem quer transformar a sociedade.