– Artigo publicado no jornal número 3 (Novembro/Dezembro 2023) da Alternativa Socialista Internacional em Portugal –
O mundo assiste com horror ao massacre que está a acontecer em Gaza. Meses de bombardeamento e invasão pelo estado Israelita, reduzindo infraestruturas e áreas inteiras a escombros e matando milhares de Palestinianos, deixando muito mais feridos e refugiados. Água, alimentação, energia e acesso à comunicação estão extremamente limitados. Toda a população de Gaza enfrenta uma punição coletiva após os horrorosos ataques indiscriminados do Hamas, e na Cisjordânia intensifica-se também a violência pelas autoridades e os colonos Israelitas.
O primeiro-ministro de extrema-direita de Israel, Netanyahu, afirma repetidamente que não haverá cessar-fogo, enquanto o estado Israelita é apoiado na sua campanha de terror e financiado pelos imperialismos europeus e, sobretudo, o estadunidense. Os interesses imperialistas na ocupação, na guerra e numa presença no médio oriente são extensos, mas tornam-se evidentes quando se sabe, durante o massacre, de novas concessões de exploração e exportação de gás a empresas europeias e estadunidenses.
Face à complacência dos governos com a opressão, não devemos confiar na perspectiva de instituições como a ONU conseguirem parar a guerra e, mais ainda, encontrar uma solução para a opressão nacional dos Palestinianos. Temos de confiar na força da classe trabalhadora! Por todo o mundo as massas têm dado o exemplo com imponentes protestos em solidariedade com o povo Palestiniano, tanto em países árabes como em países do capitalismo ocidental, apesar da intensa repressão em países como França, Alemanha e Reino Unido. Nos EUA e no Reino Unido houve protestos históricos, com centenas de milhares de participantes.
Trabalhadores impedem transporte de armas: organizemo-nos por um movimento de greve internacional
Os sindicatos Palestinianos publicaram um apelo a 16 de Outubro, “Fim a toda a cumplicidade, parar de armar Israel”, dirigido à classe trabalhadora internacional, pela recusa em produzir e transportar armas para Israel, para confrontar empresas envolvidas no cerco a Gaza e para pressionar os governos a travar o financiamento e comércio militar com Israel.
A 31 de Outubro, os sindicatos belgas do setor dos transportes declararam recusar transportar armas destinadas a Israel, e, em particular, ao genocídio em Gaza. Desde então, outros seguiram o exemplo. Estivadores e sindicatos na Catalunha e em Génova, em Itália, travaram envios para Israel. Na Austrália, centenas de sindicalistas e manifestantes ocuparam portos e forçaram um navio Israelita a alterar a rota. Nos EUA e no Reino Unido, houve bloqueios vários a navios militares e fábricas de armamento, incluindo a INKAS, a BAE Systems e a Elbit Systems. As ações dos trabalhadores e da juventude contra o envio de armas a Israel e contra o massacre em Gaza são urgentes e devem ser generalizadas e intensificadas.
Muitos sindicatos e ativistas no mundo todo, incluindo em Portugal, emitiram comunicados pelo fim do massacre e organizaram ou aderiram a protestos. Manifestações, ações diretas e comités de solidariedade podem servir para chamar a atenção do movimento dos trabalhadores mais largo e para a necessidade de construir um movimento massivo de greves coordenadas por comités democráticos de luta.
Luta contra a opressão nacional
A prioridade imediata internacionalmente é generalizar e intensificar o movimento para pôr fim ao massacre em Gaza e combater a ocupação, exigindo dos governos que travem o financiamento e militarização de Israel. No entanto, não há uma solução militar que possa garantir a liberdade do povo Palestiniano. A ocupação e a guerra continuam há mais de 75 anos porque o capitalismo Israelita, como todo o imperialismo, é uma economia de guerra, que requer a expansão dos colonatos e a ocupação para continuar a acumular lucros. A solução para a opressão nacional dos Palestinianos exige a derrota desse sistema económico e portanto o envolvimento do sujeito revolucionário, a classe trabalhadora, na Palestina, em Israel e em toda a região.
Defendemos o direito do povo Palestiniano de se defender e de resistir com armas se necessário. Mas isso deve ser feito com mobilizações de massa e com controlo democrático de base para envolver toda a população na resistência, usando os métodos da classe trabalhadora, de greves e organização de base em toda a região, como vimos na Primeira Intifada (1987-1993), na greve pela dignidade de 2021 e no movimento feminista e revolucionário no Irão em 2022. Isso inclui trazer para a luta a classe trabalhadora Isrealita. Vimos alguns significativos protestos em Israel já contra Netanyahu, pelo retorno dos reféns e pelo cessar-fogo. Como marxistas sabemos que é a luta de classes a única solução para esse conflito e que ela tem que ser ampliada para toda a região e internacionalmente.
O que estamos a ver é a mais alta expressão da barbaridade do sistema capitalista. Diante desse sistema de opressão e exploração não há nenhuma solução possível que possa garantir paz ou liberdade. É só com a derrota desse sistema, com o fim do capitalismo, a instalação de uma confederação socialista do Médio Oriente e o uso dos seus recursos baseado nos interesses das massas que podemos garantir a autodeterminação e a liberdade para todos.
Deixamos o apelo dos camaradas da Luta Socialista, secção da ASI em Israel-Palestina, que constroem a luta na região: “para parar a guerra, para destronar o regime de ocupação e cerco e para acabar com a opressão nacional das massas Palestinianas, construindo a luta por uma vida de igualdade, bem-estar e paz genuína para todas as pessoas trabalhadoras, os pobres e a juventude, de todas as comunidades nacionais, no quadro da necessária mudança socialista na região.”