Contra o genocídio, o militarismo e a guerra! Só a classe trabalhadora internacional pode defender o direito de autodeterminação!

Por Ricardo

– Artigo publicado no jornal número 8 (Abril/Maio 2025) do coletivo Luta pelo Socialismo –

O mundo hoje encontra-se perante uma escalada militarista promovida pelas principais potências imperialistas, no contexto do desenvolvimento de um conflito interimperialista principal entre os EUA e a China. Em competição por lucros e face à expansão da China, parte importante das classes dominantes, nos EUA e não só, tem-se virado para o protecionismo e a agressividade imperialista. Esta tendência não só ameaça a paz mundial, mas também impõe sacrifícios significativos à classe trabalhadora, desviando recursos essenciais dos serviços públicos para financiar a indústria militar. Diante deste cenário, é fundamental que a classe trabalhadora internacional se una contra o militarismo e a guerra, defendendo o direito à autodeterminação dos povos através de métodos revolucionários.

Imperialismo: a fase monopolista do capitalismo

Esta corrida ao armamento pelas principais potências mundiais é uma das caraterísticas da fase imperialista do capitalismo, tal como descrita por Lenin em 1917 no seu livro “Imperialismo, fase superior do capitalismo”. Segundo Lenin, o imperialismo representa uma etapa do capitalismo em que a concentração da produção atinge um nível tal que os grandes grupos empresariais dominam a economia global. Esta concentração leva à formação de uma oligarquia financeira e à exportação do capital para regiões menos desenvolvidas em busca de negócios mais lucrativos, resultando na divisão do mundo em esferas de influência entre as grandes potências. Este processo não somente intensifica a exploração da classe trabalhadora, mas também lança as sementes de conflitos armados, à medida que as potências disputam o domínio de mercados e recursos.

Guerra comercial e militarização: a face visível do imperialismo 

As ações recentes dos EUA e da UE ilustram as ramificações do imperialismo moderno. Nos EUA, a imposição de tarifas generalizadas sobre produtos importados, sob o pretexto de reduzir o défice comercial e revitalizar a indústria doméstica, provocou instabilidade nos mercados financeiros, tensões comerciais globais e retaliação pelas outras grandes economias, como a UE e a China. Porém, a verdadeira motivação do governo americano é manter o domínio dos EUA na ordem económica internacional, perante rivais europeus, mas sobretudo uma China que cada vez mais se afirma como potência imperialista rival, não só na esfera económica, mas também tecnológica, financeira e militar. E, para isso, Trump e os seus sequazes não se importarão de mergulhar o mundo no caos. 

Na Europa, o impacto da eleição de Trump vai além da turbulência económica causada pelo aumento das tarifas alfandegárias. Perante um vizinho hostil a leste, com interesses imperialistas próprios e poder nuclear, e um presidente estadunidense errático, o receio dos capitalistas europeus de perderem a proteção dos EUA aos seus interesses espoletou um reforço militar reativo, cinicamente acicatado pelo próprio Trump ao sugerir um aumento da despesa em defesa dos restantes países da NATO para 5% do PIB.  

Naturalmente, a perspectiva de um grande aumento da despesa dos estados é do agrado da classe burguesa, afigurando-se como mais uma oportunidade de negócio à custa dos recursos públicos. Na UE, a proposta de aumentar os gastos militares e restringir a participação de fabricantes estrangeiros em licitações de armamento resultará no fortalecimento da indústria militar dos maiores Estados-membros, mesmo que a UE dependa ainda do capital armamentista dos EUA. Grandes empresas do setor da defesa, como a alemã Rheinmetall e a francesa Thales, estão posicionadas para lucrar com o aumento dos orçamentos militares. Obviamente, qualquer benefício económico desta escalada armamentista será residual para os países e empresas de menor dimensão.

Esta estratégia dos governos europeus reflete o conluio entre os estados burgueses e os interesses do grande capital industrial e financeiro, identificado por Lenin há mais de um século. A promiscuidade entre os poderes públicos e os interesses privados da burguesia é a prova viva de que os Estados, incluindo aqueles ditos democráticos, não passam de marionetas ao serviço do grande capital, disfarçando a atitude imperialista e a escalada belicista com palavras suaves como “cooperação” ou “segurança”. Por trás do verniz civilizacional, o único e verdadeiro interesse é o lucro, arrancado violentamente das vidas dos trabalhadores.

Impacto na classe trabalhadora e nos serviços públicos

Se dúvidas houvesse de que este frenesim militarista, além da consolidação das esferas de influência, tem também como motivação a abertura de oportunidades de negócio, o tema em torno do qual tem girado o debate torna-a evidente: a fatura. Mark Rutte, antigo primeiro-ministro dos Países Baixos e atual secretário-geral da NATO, tem-se desdobrado em visitas aos membros da organização para exigir o aumento das suas despesas militares. E assim será na cimeira da NATO em Haia, em junho, onde os governos se preparam para acordar um aumento da meta de despesa militar de 2% para 3,5% do PIB. No caso de Portugal, o simples cumprimento do objetivo atual implicaria um aumento da despesa em 1,6 mil milhões de euros por ano, valor que mais do que triplica com a nova meta. 

Apesar do tema dominar a agenda mediática, ninguém sabe exatamente onde se vão gastar estes recursos. No entanto, há uma certeza: será necessário cortar em algo, e Mark Rutte já disse onde – no estado social.

Se a guerra comercial atingirá a classe trabalhadora com novos aumentos de preços e possíveis perdas de empregos, o desvio de recursos públicos para gastos militares também terá consequências negativas para as populações. Investimentos que poderiam ser direcionados para saúde, habitação, educação, clima e outros serviços públicos serão canalizados para a indústria bélica, exacerbando desigualdades sociais e económicas. De facto, serão as camadas mais desfavorecidas da população a sofrer as consequências da expansão do complexo militar industrial planeado pela burguesia. Como em todas as crises geradas pelo capitalismo, serão os pobres a pagar com a degradação da sua saúde, as aprendizagens perdidas, os projetos de vida adiados.

O momento que vivemos de agudizar das tensões geopolíticas e escalada da retórica militarista não pode ser desligado do crescimento da extrema-direita nos últimos anos. Este crescimento assenta numa agenda securitária e repressiva, que se apresenta como resposta ao sentimento de insegurança face a supostos inimigos internos e externos. Perante o descontentamento social crescente, alimentado por décadas de políticas neoliberais e ciclos sucessivos de austeridade, o centro político escolheu cooptar esta agenda reacionária numa tentativa desesperada de manter o controlo.

A retórica militarista cumpre aqui uma dupla função: por um lado, desvia atenções dos problemas estruturais – precariedade, desigualdade, crise climática – fabricando um sentimento de ameaça constante; por outro, legitima o reforço do aparelho estatal de vigilância, controlo e repressão interna. Como a História já demonstrou, a sensação de guerra iminente é propícia à perseguição da dissidência política, como ilustra a repressão cada vez mais violenta das manifestações populares de apoio à Palestina e contra o governo sionista e genocida de Israel nos EUA e em diversos países europeus.

Defesa do direito à autodeterminação através de métodos proletários

A liberdade e autodeterminação dos povos ameaçados pela voracidade das potências imperialistas não serão alcançadas apoiando um lado imperialista contra os outros. Enquanto os recursos forem apropriados por uma pequena oligarquia parasitária, serão usados para alimentar disputas imperialistas, acumular armas e implodir os serviços públicos. A emancipação da classe trabalhadora tem, inevitavelmente, de passar pela luta contra estas formas de opressão e pela rejeição das soluções da burguesia para a segurança dos povos que, na verdade, apenas procuram garantir os seus lucros e a estabilidade do sistema capitalista à custa dos povos oprimidos. 

Contra os tambores da guerra, punhos erguidos nas ruas! Contra a guerra comercial, a tomada dos meios de produção nas mãos da classe trabalhadora mundial! 

A máxima marxista de que nenhuma nação pode ser livre se oprimir outras nações deve valer na luta revolucionária contra o militarismo e a guerra que caracterizam esta fase avançada do capitalismo. A classe trabalhadora dos países imperialistas deve erguer-se contra as intenções bélicas das suas burguesias locais e, lutando pela sua própria emancipação, associar-se às lutas nacionais dos povos oprimidos: contra a espoliação dos recursos naturais da Ucrânia, contra o genocídio do povo palestiniano, contra todas as tentativas de subjugar a vontade dos povos à ganância parasitária da burguesia.

Perante a escalada armamentista e a guerra comercial, propomos o seguinte programa:

  • Financiamento público da Habitação, Saúde e Educação, não da Guerra!
  • Não há interesse nacional que una capitalistas e trabalhadores: defesa da classe trabalhadora face a novos ataques aos seus empregos e às suas condições de vida e trabalho!
  • Boicote aos esforços de guerra, inclusivamente pela greve, expropriação e controlo operário da indústria e transporte de armamento!
  • Apoio aos povos oprimidos da Ucrânia, da Palestina, do Iémen, pelos métodos proletários: boicote ao armamento de todos os opressores imperialistas; auxílio ao armamento entre organizações proletárias; nenhum apoio aos governos reacionários dos países oprimidos!

Diante da ameaça constante de guerras e de exploração desenfreada, a única solução viável e duradoura é a revolução socialista mundial. Somente através do derrube do sistema capitalista e da construção de uma sociedade baseada na propriedade coletiva dos meios de produção e na planificação democrática da produção e distribuição de recursos segundo as necessidades de todos será possível eliminar as causas subjacentes aos conflitos e à opressão, que são a necessidade de lucro e a competição, pavimentando o caminho para uma paz duradoura e uma verdadeira justiça social. A classe trabalhadora internacional deve unir-se além das fronteiras nacionais e enfrentar coletivamente as forças do imperialismo. Apenas pela conquista do poder pela classe trabalhadora de todas as nações será possível assegurar uma verdadeira autodeterminação para todos os povos e construir um futuro livre de exploração e conflito. 

Trabalhadores do mundo, uni-vos!