– Artigo publicado pela Liberdade Socialismo e Revolução, a secção da ASI no Brasil –
O mundo assiste com horror ao massacre que está a acontecer em Gaza. Um mês de bombardeamento pelo estado isrealita, reduzindo áreas inteiras a escombros e matando milhares de palestinianos, deixando muito mais feridos e refugiados, agora é seguido por uma invasão terrestre que promete somente ampliar o derrame de sangue.
Enquanto esse texto está a ser escrito, mais de 9200 palestinianos, incluindo 3800 crianças, foram mortos pelo estado isrealita. Isso inclui 27 pessoas que foram mortas enquanto procuravam abrigo numa escola operada pela ONU no campo de refugiados Jabalia nesta quinta-feira (2/11). Estatísticas recentes apontam que mais de 60% das vítimas são mulheres e crianças.
O primeiro-ministro de extrema direita de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou mais uma vez que não vai aceitar um cessar-fogo. Esse ataque de vingança foi lançado após os horrorosos ataques indiscriminados do Hamas que mataram 1400 pessoas e levaram como reféns 200 pessoas em Israel, incluindo judeus, beduínos e palestinianos. Mas agora, toda a população de Gaza enfrenta uma punição coletiva. Água, alimentação, energia e acesso à comunicação estão limitados ou prestes a acabar, mesmo que alguns camiões com alimentos, muito aquém do que é necessário para uma população de mais de 2 milhões, tenham sido deixados entrar na faixa de Gaza.
A situação já ultrapassou qualquer outro massacre que tenha acontecido em Gaza, com o estado israelita a ser apoiado e financiado pelo imperialismo dos EUA. A visita histórica de Joe Biden a Telavive deixou bem claro que o imperialismo estadunidense apoia a campanha de terror. Não hesitou em fazer eco dos argumentos do governo israelita, incluindo a expressão insensível dos “escudos humanos” para justificar o assassinato sem limites de civis. Ao mesmo tempo ele apoia um pacote de US$100 biliões em ajuda para continuar a financiar guerras, incluindo na Ucrânia.
O papel de Biden neste conflito deve ser entendido no contexto da Nova Guerra Fria e da rivalidade interimperialista que caracteriza a nova era de desordem global. No momento em que o presidente estadunidense aterrava em Telavive, Vladimir Putin visitou a China para se encontrar com Xi Jinping. Nem a Rússia nem a China condenaram o Hamas, e ambas estão empenhadas em explorar cinicamente a situação dos palestinianos numa tentativa de marcar pontos políticos contra os EUA. A China também tem desempenhado um papel crescente, embora ainda limitado, na região.
Há uma chance real do conflito se espalhar por toda a região com os Houthis no Iémen já tendo declarado guerra contra Israel. Ao mesmo tempo o Hezbollah no Líbano tem confrontado forças israelitas na fronteira com mortes nos dois lados. O líder do grupo apoiado pelo Irão, Hasan Nasrallah, tem feito declarações apelando a um cessar-fogo em Gaza e não chegou a ampliar o conflito por enquanto. Mas, nessa era de desordem e com a situação saindo do controle não podemos prever com toda a certeza os próximos acontecimentos.
A realidade é que, mesmo com uma luta heroica da resistência palestiniana por mais de 75 anos, não há uma solução militar nesse conflito que possa garantir a sua liberdade. Defendemos o direito do povo palestiniano de se defender e de resistir com armas se necessário. Mas isso tem que ser feito com mobilizações de massa e com controlo democrático de base para envolver toda a população na resistência. Para além disso, essa luta tem que utilizar os métodos da classe trabalhadora, de greves e organização de base em toda a região, como vimos na primeira intifada de 1987 e na greve pela dignidade de 2021. Isso inclui trazer para a luta a classe trabalhadora isrealita. Vimos alguns protestos em Israel já contra Netanyahu e pelo retorno dos reféns e mais recentemente pelo cessar-fogo. Mesmo que esses protestos sejam pequenos por enquanto, com alguns milhares, o fato de acontecerem nesse estágio inicial do conflito é significativo. Como marxistas sabemos que é a luta de classes a única solução para esse conflito e que ela tem que ser ampliada para toda a região e internacionalmente.
Ao redor do mundo temos visto mobilizações massivas contra o massacre. No mundo árabe, em países como Síria, Iraque, Turquia e Jordânia o povo foi para as ruas em solidariedade com o povo palestiniano. Também no Egito vimos os primeiros grandes protestos desde que El-Sisi tomou o poder e em Marrocos onde a população protestava contra os acordos de normalização do país com Israel.
Também há protestos frequentes em países do capitalismo ocidental como Irlanda, França e Alemanha mesmo enfrentando uma repressão pesada contra qualquer um que proteste em solidaridade com o povo palestiniano. No Reino Unido, manifestações gigantes, chegando a níveis não vistos desde os protestos contra a guerra do Iraque, têm tomado as ruas das grandes cidades. Também houve ocupações de estações de comboio de grande fluxo com 5 pessoas sendo presas na estação King’s Cross em Londres. Nos EUA também vimos menifestações grandes juntamente com greves estudantis em escolas e universidades. Também houve ocupações de estações de comboio, inclusive por grupos judaicos contra a guerra em Nova Iorque, Filadélfia e de 10.000 pessoas em frente e dentro do Capitólio, com mais de 300 sendo presas. Na Bélgica, os sindicatos dos transportes estão a recusar transportar armas destinadas a Israel, num exemplo do que é uma real ação de solidariedade de classe. No Brasil, manifestações estão a ser organizadas em todo o país e devem aumentar de tamanho.
O que tudo isso mostra é que há um grande potencial para um movimento anti-guerra multi-racial, multi-étnico e que cruza fronteiras. É apenas essa luta, a luta de massas lideradas pela classe trabalhadora de toda a região do médio oriente que pode realmente garantir a liberdade do povo palestiniano. O que estamos a ver é a mais alta expressão da barbaridade do sistema capitalista. Diante desse sistema de opressão e exploração não há nenhuma solução possível que possa garantir paz ou liberdade. É só com a derrota desse sistema, com o fim do capitalismo e a instalação de uma confederação socialista do Médio Oriente e baseada nos interesses da classe trabalhadora que podemos garantir a autodeterminação e a liberdade para todos.
- Pelo fim do massacre em Gaza
- Solidariedade com todas as vítimas!
- Mobilização internacional contra o massacre em Gaza – pelo direito de manifestação!
- Por um movimento de massas contra a ocupação, a pobreza, o imperialismo e o capitalismo!
- Palestina livre socialista num Médio Oriente socialista!