Básicos do socialismo: Que tipo de organização precisamos? (parte 1)

Por Eddie McCabe, Socialist Party (secção da ASI na Irlanda)

– Artigo publicado originalmente em inglês pelo Socialist Party (secção da ASI na Irlanda) –

James Connolly escreveu um dia que “as revoluções bem sucedidas não são o produto dos nossos cérebros, mas de condições materiais maduras”. O que ele queria dizer era que os socialistas não podem fazer uma revolução só porque querem. Não importa quantos socialistas existam (e em tempos normais serão sempre uma minoria), e não importa o que façam, não podem simplesmente por força de argumentos ou ações induzir a crise de confiança em massa no sistema que dá origem à revolução. O capitalismo é demasiado poderoso para ser derrubado apenas pelas ideias.

Mas a confiança que os socialistas têm no potencial para, e mesmo na perspetiva de, uma mudança revolucionária, vem de uma compreensão das contradições inerentes ao próprio capitalismo. Sim, o capitalismo é um sistema espantosamente poderoso, mas é também o seu pior inimigo. O dinamismo que outrora o tornou incrivelmente produtivo também o tornou incrivelmente destrutivo e, na era atual – de desigualdade, guerra, pandemias e crise ecológica – é particularmente autodestrutivo.

Não se trata de sugerir que o fim do capitalismo, especialmente como resultado de uma revolução, seja de alguma forma inevitável; longe disso. Mas o que é certo é que o agravamento das crises capitalistas conduzirá a imensas mudanças nas próximas décadas. Se para melhor ou para pior, depende do que fizermos. Porque nós – a maioria da classe trabalhadora – podemos atuar para moldar essa mudança, desde que estejamos organizados.

O facto é que a caraterística mais autodestrutiva do capitalismo continua a ser, como escreveram Marx e Engels, a sua produção perpétua dos seus próprios “coveiros” – os trabalhadores do mundo. Estes biliões de pessoas exploradas e oprimidas, cujo trabalho produz todos os bens e serviços de que a sociedade depende e cujas aspirações fundamentais não podem ser satisfeitas sob este sistema, constituem a força social mais poderosa que alguma vez existiu.

Infelizmente, o seu poder é, demasiadas vezes, um poder latente. No entanto, ao longo dos últimos 200 anos, tem sido demonstrado vezes sem conta, em medidas muito variadas, é certo – desde protestos, a greves, a insurreições. Pode ser expresso de formas que são em grande parte espontâneas – explosões de indignação colectiva contra a injustiça. Mas para que possa ser aproveitada da forma mais eficaz, a organização é essencial.

De facto, a organização é natural para a classe trabalhadora, cuja própria existência é definida pela sua exploração pelos capitalistas. Para conquistar quaisquer direitos sociais ou ganhos económicos, e para os defender, é necessário unirmo-nos e agirmos de acordo com os nossos interesses comuns. Assim, quer em campanhas sobre questões específicas, quer em sindicatos ou partidos políticos, quer em combinações destes, a classe trabalhadora tem sido capaz de forçar o progresso – desde o direito de voto, à prestação de assistência social, ao tempo livre ao fim de semana. Isto aplica-se a todas as outras coisas que muitas vezes tomamos como garantidas, nenhuma das quais foi simplesmente concedida pelo sistema.

De facto, o sistema procura constantemente minar e anular estas conquistas, bem como bloquear quaisquer novas conquistas. As campanhas, os sindicatos e os partidos políticos (reformistas de esquerda) desempenham um papel importante para tornar a vida das pessoas da classe trabalhadora mais suportável dentro deste sistema capitalista, que, em última análise, vê todas as pessoas e o planeta como meros recursos a serem explorados para o lucro.

O que essas organizações não fazem, porém, é lutar por uma alternativa a esse sistema. Esta é uma fraqueza decisiva em dois aspectos principais: Em primeiro lugar, a sua incapacidade de ver para além dos limites do capitalismo significa que as suas reivindicações serão sempre demasiado limitadas. O mesmo se passa com os seus métodos de concretização dessas reivindicações – negociação em vez de greves, parlamento em vez de luta. Por conseguinte, mesmo a sua capacidade de conquistar reformas é menos eficaz.

Em segundo lugar, embora possam desempenhar um papel fundamental na mobilização dos trabalhadores e dos jovens para a atividade, as suas convicções reformistas (ilusões no sistema e medo de mudanças radicais) significam que quando as lutas atingem os seus pontos mais altos – quando a revolução se apresenta – estas organizações tornam-se, na realidade, um bloqueio a novos progressos; traindo inevitavelmente os interesses daqueles que representam. E isto, na maior parte das vezes, não conduz a meias medidas, mas à calamidade total.

A única forma de evitar estas eventualidades é garantir a existência de uma liderança alternativa e revolucionária que desafie a traição reformista. Isso significa construir um partido revolucionário. Em suma, este é um partido com um programa marxista – a destilação de todas as lições da história revolucionária da classe trabalhadora; e, crucialmente, um partido que se baseia nas lutas da classe trabalhadora e dos oprimidos.

Se organizada e mobilizada, a classe trabalhadora pode derrubar o capitalismo; isso não deve ser posto em dúvida. Só não o pode fazer sem esse partido e essa direção.